O organismo humano contém uma imensa e importante população de micro-organismos, que, quando em equilíbrio, garante seu bom funcionamento. Trata-se da microbiota, presente em todas as partes do nosso corpo, mas que se concentra fortemente no trato gastrointestinal. Nos últimos anos, a comunidade científica tem estudado muito a microbiota para entender sua influência sobre a saúde, de forma a desenvolver tratamentos mais eficazes para diversas doenças. É aí que entram os probióticos, bactérias benéficas que podem ser ingeridas em cápsulas, sachês e até alimentos, como iogurtes e leites fermentados.
Embora a atuação dos probióticos no corpo humano ainda não tenha sido completamente desvendada, já se sabe que eles protegem o organismo das bactérias patogênicas (que causam doenças) de diversas maneiras: formam uma barreira contra essas bactérias maléficas e competem com elas por nutrientes, além de produzirem bacteriocinas (proteínas antibióticas) para atacá-las e de estimularem o sistema imunológico, ajudando, assim, que o organismo combata os patógenos. Também auxiliam na digestão, absorção e produção de nutrientes, reduzem a concentração de amônia e a liberação de enzimas resultantes do metabolismo celular, e ainda têm potenciais efeitos anticarcinogênicos.
A maior concentração de bactérias benignas está no intestino, onde também estão cerca de 60% de nossas células imunológicas. Assim, o intestino é a parte do nosso corpo mais importante em termos de imunidade, e sua microbiota desempenha papel essencial nessa função. Por isso, os probióticos são, já há algum tempo, indicados para regular o intestino e reforçar o sistema imunológico. Mas, conforme as pesquisas fazem novas descobertas sobre a atuação dos probióticos, mais indicações também vão surgindo.
Uma das funções dos probióticos mais estudadas atualmente é no tratamento e na prevenção de doenças alérgicas. Apesar de ainda não saberem sua real eficácia, pesquisadores já descobriram efeitos benéficos dos probióticos contra doenças alérgicas, graças à sua influência em mecanismos de nosso corpo que desencadeiam alergias – tais como as respostas inflamatórias das células e a permeabilidade do intestino. Estudos recentes mostraram que o uso contínuo de probióticos funciona como tratamento a alergias atópicas, inclusive em crianças.
Esses mesmos mecanismos anti-inflamatórios – somados à potencial regulação do controle glicêmico promovida pelos probióticos – têm estimulado a investigação dos efeitos de algumas bactérias benignas no controle da acne. Estudos clínicos já comprovaram que a ingestão diária, por períodos prolongados, de probióticos reduz a produção de sebo pela pele e, consequentemente, diminui o número de lesões da acne.
A dermatologia certamente é uma área na qual os probióticos devem ganhar cada mais espaço. Além do tratamento de alergias atópicas e da acne, o fortalecimento do sistema imunológico é uma função dessas bactérias que está diretamente relacionada à saúde da pele. Inclusive, já existem probióticos tópicos que podem ser adjuvantes em tratamentos dermatológicos.
Curiosidade – A microbiota humana foi descoberta no século 17 pelo holandês Antonie van Leeuwenhoek, que observou bactérias presentes em suas próprias fezes e saliva. Antes chamada de “flora”, a colônia de bactérias que vive no corpo humano foi batizada de microbiota pelo médico norte-americano Joshua Lederberg, vencedor do Nobel de Fisiologia e Medicina de 1958. Atualmente, calcula-se que pelo menos 10 trilhões de bactérias colonizem um único corpo humano. E essa grande população bacteriana se forma muito rapidamente: o bebê recebe suas primeiras bactérias ao nascer, principalmente da mãe (mas também dos médicos e de quem mais tiver contato com ele no parto); ao completar um ano de vida, ele já tem a microbiota completamente formada, semelhante à de um adulto.